Fábio Carvalho – Festival de Arte Serrinha 2016

f Share

16 de julho

Abertura da casa: 20:30 H

Horário do show: 23:59 H


Ingresso antecipado: R$ 20,00

Ingresso na porta: R$ 50,00


Ingresso na porta - estudante: R$ 25,00

Diálogo Musical entre o Tradicional e o Moderno!!
Quintal. Do dicionário, terreno geminado a uma casa, onde geralmente são plantadas hortas ou árvores frutíferas; lugar de recreação; pequena propriedade. O conceito não poderia ser mais adequado para batizar o novo disco de Fabio Carvalho, o primeiro trabalho solo do experiente músico, estudioso dos ritmos regionais brasileiros, em especial o congo capixaba, e devoto de São Benedito. Na obra, ele demarca seu espaço e sua identidade artística com originalidade, ao mesmo tempo em que cultiva suas referências musicais e religiosas. Tudo isso ao lado de um belo time de convidados, formado por amigos e mestres.

E, já que estamos falando de conceitos, a sonoridade de “Quintal”, impossível de ser enquadrada em apenas um gênero musical, também ganhou uma expressão nova para ser definida: Afro Congo Beat. Nas dez faixas do álbum, Fabio Carvalho busca as heranças mais antigas dos ritmos regionais do Espírito Santo – as músicas de matriz africana – e coloca as batidas do congo e do ticumbi para conversar com os beats da música eletrônica. O resultado é um diálogo precioso e dançante da arte popular tradicional com a contemporânea, fruto atualíssimo da antropofagia cultural que marcou o nascimento do modernismo brasileiro.

Além de objetos de inspiração e devoção, as tradições populares transformaram-se também no ofício do músico. Nascido em Vitória em 1969, Fabio Carvalho é rosto conhecido por sua participação na banda Mahnimal, que já na década de 1990 aliou o congo a outros gêneros, notadamente o rock. Paralelamente à carreira de músico, o capixaba estreita seus laços com as manifestações artísticas locais nas funções de fundador e gestor de projetos sociais, como o Centro Cultural Caieiras, que tem como missão promover a cidadadania entre jovens da periferia da capital capixaba por meio da arte, e o Ponto de Cultura Manguerê, que estuda os ritmos afrobrasileiros, entre outras atividades.

Essa profunda ligação com a cultura popular transparece em “Quintal” desde sua faixa de abertura, “Preto Velho”, em que o músico reverencia o candomblé e ritmos como a roda de samba, o caxambu, a ciranda e os já citados congo e ticumbi. O elo surge sob diferentes facetas, como na delicada “Rainha”, quase uma canção de ninar, e no Bois de Reis de “Kalimbada”, até desaguar em “Boi Carrero”. Nesta, a sanfona – tão presente na vocação forrozeira do Espírito Santo – miscigena-se ao jongo e às músicas árabe e celta, representadas pelos derbukas e violinos eletrônicos.

Em seu sua excelente estreia solo, em que brinda o ouvinte não apenas com composições inspiradas, mas também com seu timbre encorpado e macio (o que pode ser uma descoberta para muitos, já que ele não costumava assumir os microfones), Fabio não economizou nas parcerias. A primeira faixa já inaugura também a lista de ilustres participações, com a tradição do tambor mineiro de Raquel Coutinho e o groove hipnótico do celebrado percussionista
Marcos Suzano, que se reveza entre o pandeiro, as tablas, o karkabul e outros instrumentos.

Nome incontornável do samba no Espírito Santo, Edson Papo Furado surge em “Barracão” não apenas como intérprete, mas como compositor, na primeira gravação de uma música de sua lavra. Mestre das baquetas e da percussão, Edu Szajnbrum, que já gravou com artistas de relevo no cenário nacional, entre eles Marisa Monte e Gilberto Gil, é quase onipresente no disco, responsável por fazer pulsar diferentes instrumentos percussivos.

Clássico do cancioneiro recente capixaba, a canção “Jardim Camburi”, da banda Zémaria, reaparece em “Quintal” em versão lounge, com o auxílio luxuoso de Rafael Rocha, um dos trombonistas mais festejados do país.

“Janaína”, composta em parceria com o ator e músico Jonathan Silva, radicado em São Paulo, traz pios de pássaro e repinique tocados por Cid Travaglia, já acostumado às fusões entre a música afra e o eletrônico com a banda Napalma. Cid volta ainda em “Solte os Cabelos”, desta vez com um djembê.

A lista de convidados é coroada com os artistas que representam o congo, uma das bases do tripé que sustenta o Afro Congo Beat do álbum. O ritmo marca sua presença tanto na ambientação e nos samples ao longo das faixas – gravadas in loco na Festa de São Sebastião e São Benedito na Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra (ES) -, quanto na participação de Mestre Vitalino, Dona Juraci e Beatriz Rego, da Banda de Congo Mestre Honório, da Barra do Jucu, em Vila Velha, celeiro fértil dessa manifestação popular. Além disso, todos os tambores e casacas foram gravados por jovens do projeto Congo na Escola e do Grupo Manguerê, ligados ao Centro Cultural Caieiras, presidido por Fabio Carvalho.

É interessante observar aqui o trabalho de harmonização do músico, que deu estofo à melodia e ao ritmo característicos do congo. Esse processo fica evidente, entre outras faixas, em “Tem Areia” e “Solte os Cabelos”, que ganharam corpo com as batidas eletrônicas.
A perfeita alquimia de “Quintal” pôde ser obtida é, claro, graças ao talento de Fabio Carvalho para agregar e miscigenar artes e conceitos, mas também à arquitetura musical do maestro e arranjador Léo Caetano, em parceria com o músico e produtor Marcel Dadalto (Zémaria), nome por trás das batidas e samples do disco.

Em vez de soar como uma mera colagem de influências – e elas não são poucas, já que estamos falando de um músico que também atua como pesquisador, DJ e idealizador de um festival de cultura negra, o Torta Black -, o disco agrega todos os elementos de forma fluida e orgânica. É o endereço próprio de Fabio Carvalho na black music. Com vizinhos notáveis que vão de Dom Salvador a Otto, de Thiery Corporarion a Cartola, o capixaba agora constrói sua casa nessa terra fértil. E com um amplo quintal.

Pontos de Venda

Chocolatti Nicollati
Cervejaria Bragantina
Backside House
Cervejaria Barnia